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As florestas são um patrimônio da Bahia e precisam ser protegidas

27 de outubro de 2021 - Por Luís Fernando Guedes Pinto

Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto*

Versão reduzida do artigo publicada originalmente no jornal Correio

 

A Bahia é um dos maiores estados do Brasil e um dos mais importantes para a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade do país. É um dos poucos estados que abriga três biomas: a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga. Devido a essa enorme riqueza ambiental, possui onze Parques Nacionais – como o do Descobrimento, Monte Pascoal, Pau Brasil, Chapada Diamantina, Grande Sertão Veredas em todas estas regiões – e o marinho de Abrolhos, na costa baiana.

Sua história está diretamente relacionada com a ocupação e a exploração das florestas nativas, desde a chegada de Cabral na Mata Atlântica em 1500. A extração do pau-brasil da Bahia deu início ao primeiro ciclo econômico do Brasil. No século 18 foi a vez do cacau, também ocupando as áreas florestais da região litorânea, onde permanece até hoje. Depois, na década de 1970, tivemos o início do cultivo do eucalipto, com a implantação das primeiras indústrias de celulose no Espírito Santo e na Bahia, iniciando um novo ciclo de derrubada da Mata Atlântica.

As florestas naturais, restingas e manguezais também foram substituídas por importantes cidades, como Salvador, Ilhéus, Itabuna e Porto Seguro. Nas últimas décadas, de norte ao sul do lindo litoral baiano, avança a infraestrutura do turismo.

A Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado e devastado do Brasil, ocupa praticamente um terço (32%) do estado. Está presente não somente em toda a costa, mas também em grandes manchas no centro e no oeste do estado, com matas de altíssima biodiversidade e alto grau de endemismo de espécies (que somente ocorrem naquela região) – muitas ameaçadas de extinção. Nas matas da região de Ilhéus um estudo identificou a maior diversidade de espécies de árvores do mundo, com mais de 450 diferentes espécies arbóreas por hectare, contribuindo para a Mata Atlântica ser considerada pela ciência como um dos cinco biomas mais importantes para a conservação da biodiversidade no mundo. Cada uma destas três regiões da Mata Atlântica na Bahia tem uma riqueza única.

Mas 520 anos de história causaram uma grande pressão sobre esta valiosa floresta. Da área original de Mata Atlântica do estado restaram somente 11,1% da área original, considerando os fragmentos acima de 3 hectares (ha). Infelizmente a Bahia tem se destacado historicamente entre os maiores desmatadores da Mata Atlântica no Brasil, segundo o monitoramento realizado desde 1989 pelo Atlas dos Remanescentes Florestais produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram dizimados 47 mil ha de florestas desde 2011. Em 2020 foram 3.230 ha, sendo o segundo maior desmatador do bioma no Brasil. Os municípios da Bahia também se destacam entre os que mais perderam cobertura florestal nativa do bioma todos os anos.

As atuais fronteiras do desmatamento do estado estão nas regiões centro e oeste, onde ocorre forte expansão da agropecuária, que pode ser ameaçada pelo corte das matas. Além de abrigar a biodiversidade, as florestas prestam serviços ecossistêmicos fundamentais para as cidades e a economia do estado e do Brasil, como o fornecimento de água para as cidades, indústrias e irrigação, a regulação do clima, a polinização das culturas agrícolas, entre outros.

Frente à emergência climática e o risco de colapso global dos serviços ecossistêmicos, a ONU declarou o período 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas. É fundamental a Bahia participar deste movimento, pois depende de suas matas para ter água, comida e atenuar as mudanças climáticas. É necessário a intensificação da fiscalização ambiental, rigorosos processos de licenciamento ambiental, a aplicação da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal para protegermos o que restou e recuperarmos a Mata Atlântica. O governo do estado e os municípios têm uma grande responsabilidade para o alcance destes objetivos, dos quais dependem o futuro da população e da economia do estado.

Assim, a atual trajetória de pressão sobre as florestas da Bahia pode ser revertida. E uma nova agenda que proteja e recupere a Mata Atlântica é uma grande oportunidade para o desenvolvimento e o crescimento do estado e seu posicionamento no Brasil e no mundo. A agricultura de baixo carbono, a valorização dos parques e reservas, o fomento ao turismo sustentável e o reconhecimento da natureza como um grande ativo e patrimônio podem ajudar na construção de uma imagem para atrair muitos novos investimentos para uma economia verde que pode se tornar uma referência nacional e internacional.

 

*Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto são, respectivamente, diretora executiva e diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica

Foto: Chapada Diamantina, por Helder C. Jr.

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