Artigo de Marcia Hirota*, originalmente publicado no site do Museu do Amanhã.
A Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais se estende do município de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, ao norte do município de Maceió, em Alagoas. Com mais de 400 mil hectares de área e cerca de 120 km de praia e manguezais, é a maior Unidade de Conservação federal marinha no Brasil. Rica em belezas naturais, praias e paisagens que abrigam o peixe-boi, a região é também conhecida pelo seu potencial turístico, o que atrai visitantes o ano todo e movimenta a economia local. Ao mesmo tempo, a falta de ordenamento pode causar impactos negativos ao meio ambiente, numa região que é classificada como uma área protegida e prioritária para a conservação da Mata Atlântica, sua biodiversidade e ecossistemas associados.
O que pode parecer um cenário complexo, abre também oportunidades de inovação, como mostra o exemplo do Instituto Biota de Conservação, que desenvolveu um aplicativo que permite que turistas colaborem com o monitoramento da ocorrência de animais marinhos encalhados. O aplicativo serve como um canal de contato direto para que a população indique para a equipe de resgate, por meio de fotos e georreferenciamento, onde estão os animais encalhados. Não que antes as pessoas já não colaborassem, estimuladas pela campanha de mobilização que o instituto realiza todo verão, mas as informações chegavam por meio de ligações, o que gerava uma grande demanda para filtrar, armazenar e verificar a veracidade dos dados. Com o aplicativo, a equipe de resgate tem acesso em tempo real às informações, com registro fotográfico, dados de quem passou a informação e coordenadas para chegar ao local e realizar o pronto atendimento do animal, fazendo com que suas chances de vida aumentem.
O fato é que a revolução da tecnologia, em especial da indústria dos aplicativos, somada ao espírito inovador e empreendedor de pessoas engajadas, pode ser uma aliada das causas socioambientais. E há ainda outros bons exemplos, como o projeto Praças, de São Paulo, uma plataforma colaborativa que viabiliza, com a participação da sociedade, a revitalização e gestão de praças públicas, e a Reverse, que cria soluções colaborativas para a gestão de resíduos e educação socioambiental, auxiliando as prefeituras com o gerenciamento dos resíduos, criando uma rede com os diferentes setores envolvidos nesse processo e, por fim, informando a população sobre os locais adequados para descarte correto dos resíduos.
A própria história da Fundação SOS Mata Atlântica tem no seu DNA a inovação e uso da tecnologia para a proteção do bioma. Quando a organização foi fundada, há 30 anos, sabia-se que a Mata Atlântica era composta por diferentes ecossistemas que se encontravam, como até hoje, sobre forte pressão, mas não havia um detalhamento exato sobre a distribuição espacial do bioma, tão pouco informações sobre o ritmo do desmatamento. Fazia-se necessário então “descobrir” a Mata Atlântica. Assim nasceu o “Atlas da Mata Atlântica”, parceria da Fundação SOS Mata Atlântica com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que utiliza a tecnologia de sensoriamento remoto e de geoprocessamento para monitorar o bioma.
O primeiro levantamento, referente ao período de 1985-90, determinou a área, a dimensão e a distribuição espacial da Mata Atlântica, estabelecendo uma referência inicial para o desenvolvimento de novos estudos. Inicialmente, o monitoramento era de 5 em 5 anos e atualmente é anual.
Para se ter uma ideia, quando o monitoramento começou, a Mata Atlântica era derrubada numa velocidade de um campo de futebol a cada quatro minutos. Com o monitoramento, associado à ampla divulgação dos dados, pressão ao poder público e envolvimento da sociedade, até o ano passado houve a redução de 83% desse ritmo de desmatamento. Para completar, todas essas informações são disponibilizadas de maneira fácil, no aplicativo Aqui Tem Mata?, que permite que cada um dos 145 milhões de brasileiros que vivem no bioma conheçam a Mata Atlântica da sua cidade e, inspirados por ações inovadoras como as aqui citadas, se envolvam na sua proteção.
Vivemos numa rede de informações e precisamos nos apropriar dos avanços tecnológicos para inovar e engajar mais e mais pessoas em prol do futuro da Mata Atlântica.
*Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que atua há 30 anos na defesa da floresta mais ameaçada do Brasil. Saiba como apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.