Representantes de Quilombos, comunidades ribeirinhas, entidades da sociedade civil organizada e autoridades participaram das audiências públicas convocadas pelo IBAMA para o processo de licenciamento da hidrelétrica de Tijuco Alto, projetada pela CBA – Companhia Brasileira de Alumínio para ser implantada no Alto Rio Ribeira, entre os municípios de Ribeira (SP) e Adrianópolis (PR).
As audiências tiveram início em Cerro Azul (no dia 6 de julho) e seguiram nas cidades de Ribeira, Adrianópolis, Eldorado e Registro, evidenciando a revolta dos moradores que poderão ter suas terras alagadas e a forma como a empresa adquiriu áreas na última década.
A equipe técnica contratada para defender o projeto e os representantes da CBA ouviram protestos, questionamentos e repúdios da sociedade, inclusive das autoridades e dos prefeitos da região que reclamam dos baixos valores oferecidos como compensação para as áreas alagadas. As audiências reuniram em média seiscentas pessoas por município, e na última, em Registro, 856 pessoas participaram da exposição e debates que duraram das 18h às 4h46.
Representantes do Ministério Público Federal e dos estados também acompanham as audiências e apresentaram vários questionamentos. O lago da barragem poderá inundar 3684 hectares de Mata Atlântica e afetar a vida de agricultores, quilombolas e ribeirinhos da região que envolve os municípios de Cerro Azul, Dr. Ulisses, no Paraná e Itapirapuã Paulista, Ribeira, Iporanga, Eldorado, Sete Barras, Registro, Iguape e a região do estuário no Lagamar.
Além disso, cerca de um bilhão de litros de água do rio Ribeira, da parte inferior do reservatório, ficarão indisponíveis para uso, devido a má qualidade e a contaminação dos sedimentos por metais pesados e resíduos de Chumbo. Essa água que ficará parada em um reservatório profundo, formado por uma barragem de 142 metros de altura, será completamente “morta”, portanto desperdiçada. Considerando a profundidade média anual de 77,5 metros do reservatório, da porção de água que ficará com má qualidade, o volume de água indisponível poderá ser da ordem de 620,3 milhões de metros cúbicos.
Portanto, para a maioria dos participantes das audiências a apropriação desse bem público que é a água do rio Ribeira para um único usuário, com finalidade econômica é um abuso. (Por Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica)