A Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a empresa de geotecnologia Arcplan, avaliou o impacto sobre as áreas naturais da Mata Atlântica decorrente do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco – pertencente a Vale e BHP Billiton – na região de Mariana, em Minas Gerais.
Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, explica que esta análise teve como base o “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”, desenvolvido anualmente por essas organizações, com patrocínio do Bradesco Cartões, e que utiliza a tecnologia de sensoriamento remoto e geoprocessamento para monitorar remanescentes acima de 3 hectares (ha). “Entretanto, neste estudo, avaliamos fragmentos de vegetação nativa e áreas naturais acima de 1 ha, o que possibilitou um exame mais detalhado da vegetação natural, com porte arbóreo/arbustivo ou florestal com menor grau de conservação, existente nas margens dos rios e demais áreas afetadas pelo rompimento da barragem”.
A área analisada abrange os municípios de Mariana, Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponto Nova, todos integralmente inseridos nos limites da Mata Atlântica, de acordo com o mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica (11.428/ 2006).
O estudo constatou que a lama de rejeitos impactou uma área total de 1.775 ha, ou 17 km2, desses municípios, incluindo-se regiões de vegetação nativa ou alteradas por pasto, agricultura e malhas urbanas. A lama removeu um total de 324 ha de áreas de Mata Atlântica, sendo 236 ha de florestas nativas e outros 88 ha de vegetação natural.
Confira o relatório completo do estudo em: https://goo.gl/W5EI4J
Foram avaliados na análise de impacto sobre a vegetação nativa 114 km de cursos d’água (12 km do Rio Doce, 28 km do Rio Carmo, 69 km do Rio Gualaxo do Norte, 3 km do córrego Santarém e 2 km do afluente do córrego Santarém), a partir da barragem de Bento Rodrigues, onde ocorreu o rompimento, até a represa da Usina Candonga (UHE Risoleta Neves), no município de Rio Doce.
Segundo Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE, a represa da Usina Candonga absorveu o impacto da onda de lama que afetou a área do entorno dos rios. “Após a represa, o impacto foi no leito do rio, na qualidade da água e no deslocamento de sedimentos, não havendo remoção de vegetação nas margens dos rios, ou ao menos na escala do estudo, que considera áreas com no mínimo 1 ha”.
O rompimento da barragem de rejeitos afetou um total de 679 km de rios, sendo os 114 km já citados entre a barragem de Bento Rodrigues até a represa da Usina Condonga, e outros 564 km entre a usina e a foz do Rio Doce no oceano, em Linhares, no Espírito Santo.
As principais referências para a interpretação realizada no mapeamento detalhado foram as imagens orbitais do sensor OLI/LANDSAT 8, de 2015, referentes a antes (25 de setembro) e depois do rompimento (12 de novembro), além de imagens de alta resolução disponíveis no Google Earth. “Com as tecnologias hoje disponíveis podemos identificar com mais precisão áreas de vegetação de menor porte ou com menor grau de conservação, mas que exercem papel importante no que se refere a proteção do solo e a qualidade e quantidade de água que abastece rios e represas”, observa Marcos Rosa, diretor da Arcplan.
Mapas das áreas avaliadas, em alta resolução, disponíveis em:
https://www.dropbox.com/s/wh9n5mp66d950wm/MG.zip?dl=0
“Minas Gerais já é um Estado bastante castigado em relação a supressão de vegetação nativa e foi campeão do ranking do desmatamento da Mata Atlântica por cinco anos consecutivos. A tragédia de Mariana, com seu rastro de degradação, se soma a essa realidade e reflete as trágicas consequências do desmonte gradativo da legislação ambiental brasileira e da sua não aplicação. Deve servir, portanto, para mobilizar governos e sociedade a empregar esforços para o aprimoramento das políticas ambientais, a proteção das florestas nativas, a recuperação dos ambientes degradados e o aperfeiçoamento de mecanismos de controle de atividades empresariais com grandes impactos ao meio ambiente”, conclui Marcia Hirota.
Expedição pelo Rio Doce
Desde o último domingo (6 de dezembro), uma equipe da SOS Mata Atlântica está em expedição pelos municípios afetados pelo rompimento da barragem com o objetivo de coletar sedimentos para análises em laboratórios e monitorar a qualidade da água do Rio Doce e afluentes impactados pela lama e rejeitos de minérios. “A situação é absolutamente desoladora. Passado um mês do rompimento das barragens os rios ainda estão cor de laranja, com turbidez extremamente elevada, com altíssima concentração de sedimentos e metais. Estamos fazendo coletas para as análises de qualidade da água e metais pesados e em breve, quando concluirmos os estudos, divulgaremos dados e um relato da expedição”, comenta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
A expedição é realizada em parceria com a empresa Prominent, fornecedora de equipamentos e reagentes, de outros grupos de especialistas voluntários, como o GIAIA – Grupo Independente de Avaliação de Impacto Ambiental – e conta também com a participação do eco esportista Dan Robson, que navega trechos com um caiaque especialmente equipado para realizar análises da qualidade da água e da profundidade do leito dos rios e dos reservatórios ao longo do percurso.
A analise da água, que têm como base a legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para obtenção do IQA (índice de qualidade da água) é feita com emprego de um kit desenvolvido pelo programa Rede das Águas, utilizado no projeto Observando os Rios, que reúne voluntários de diversos estados do país, localizados em áreas de Mata Atlântica, para o monitoramento de qualidade da água em rios, córregos e lagos. O kit segue metodologia para avaliação do IQA a partir de um total de 16 parâmetros, que incluem níveis de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, coliformes, fosfato, pH, temperatura, turbidez, odor cor e presença de peixes, larvas brancas e vermelhas. A classificação da qualidade das águas é feita em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
“Em virtude da contaminação por rejeitos de minério, com metais pesados e da enorme turbidez da água, estão sendo utilizados equipamentos especiais para medição de metais. Parte dos testes estão sendo feitos em campo, com o emprego de sondas de medição e espectrofotômetro e as amostras preservadas serão levadas para três laboratórios das universidades parceiras, integrantes do GIAIA”, complementa Malu Ribeiro.
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