marco tanaka
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As mulheres são parte da resposta para um mundo mais equilibrado

16 de outubro de 2020

A ex-Ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva, disse durante entrevista em 2015: “Nós vivemos uma crise civilizatória, que se compõe de cinco grandes crises: econômica, social, política, ambiental e de valores. E essa crise de valores tem feito com que a gente separe economia de ecologia; ética de política. Com que a gente separe e destrua os recursos produzidos pelos homens e pela natureza há bilhões de anos em função do lucros de apenas poucas décadas”.

Felizmente, abrir espaço para novas formas de conduzir a política pode ajudar a ‘consertar’ o mundo. E mulheres que têm espaço para agir e tomar decisões têm se mostrado muito eficientes nisso. Alemanha, Nova Zelândia, Islândia, Taiwan e Noruega são ótimos exemplos de como as lideranças femininas têm o que é preciso para nos tirar desta crise – que está longe de existir apenas por causa do novo coronavírus.

As transformações femininas vêm com a potência da natureza com uma consciência mais ampla e espiritual. Um estudo realizado pelo Fundo para população das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês) aponta que as mulheres são um eixo central para combater as mudanças climáticas. Somente com a participação das mulheres nos processos de decisão é que soluções para esse desafio serão encontradas.

O planeta não suporta mais tanto descontrole e pressão dos seres humanos. Não temos mais espaço para perder florestas, povos tradicionais e não ter um olhar generoso para a conservação. É urgente evitar o aumento da desigualdade social e do racismo ambiental que é resultado da exploração desenfreada nos biomas. Cuidar do globo para que a gente ainda consiga equilibrar a vida por mais algum tempo. Passamos da hora de criar uma novo movimento de convivência.

É essencial a reconexão das pessoas com a natureza, ressignificar e buscar espaços com mais verde, mais qualidade de vida e um ambiente melhor no entorno e nas cidades.

O conserto do mundo passa pela igualdade de gênero. Nós mulheres podemos influenciar o mundo pós pandemia, que será um mundo que irá falar da nossa sobrevivência e do cuidado necessário para que ela ocorra.

É necessário zerar o desmatamento ilegal, apoiar a restauração dos ecossistemas e implantar a bioeconomia. Nós acreditamos que um futuro sustentável é possível, mas precisamos ser ativistas desse futuro.

Precisamos de espaço para trabalhar para que a retomada das relações sociais e econômicas seja num rumo sustentável e com mais empatia, participação ativa, colaboração, parceria, diálogo e solidariedade do que tem sido até hoje.

O mundo que queremos ver emergir depois do caos depende de nossa reconexão com a natureza. Nós mulheres, que temos essa conexão de forma intrínseca, teremos que fazer um esforço para esse resgate da humanidade. É nossa única chance de sobrevivência, pensando também nas outras espécies que nos acompanham nessa jornada na Terra.

É preciso aprender com quem já sabe

Para entender onde estamos é preciso conhecer nossas raízes, nossa história e nosso passado. Somente assim poderemos traçar nosso caminho com sabedoria, sensatez e responsabilidade. A cosmovisão indígena traz lições que abarcam a diversidade cultural, a questão de gênero, o olhar sensível aos idosos, mulheres e crianças, a visão de respeito à mãe terra e à mãe natureza. São ensinamentos estrategicamente compartilhados em coletividade e organizam socialmente os povos indígenas, como salvaguardas para a futura geração. Ter essa visão holística é essência para convivência e sobrevivência no planeta.

Os povos e as comunidades tradicionais são uns dos grupos que vêm tendo, através dos tempos, a responsabilidade de fazer o uso consciente dos recursos naturais assim também convoca toda sociedade, porque, para nós, tradicionais, que entendemos o território como parte de nosso corpo – corpo e mente -, não faz sentido imaginar um território tradicional (uma comunidade quilombola, por exemplo) sem os espaços físicos sagrados, sem os espaços de uso de produção alimentar.

É preciso descolonizar o Brasil e mudar essa visão meramente exploratória. Trabalhar mais em coletividade e incluir nos planejamentos do país as diversidades étnico culturais, econômicas, geográficas e de gênero para alcançar a tão almejada justiça social e ambiental – que, nesse contexto de crise climática, se torna uma só. E nós mulheres vimos trabalhando nesse protagonismo ao quebrar barreiras da representação política, propositiva e nas manifestações por direitos coletivos.

Já sabemos que este futuro só será possível se também for tecido pelas mãos das mulheres. E que bom poder olhar para o lado e ver que já estamos aqui.

Autoras
Ana Carolina Amaral, jornalista da Folha de S.Paulo
Dora Lima, Coalizão pelo Clima SP
Joenia Wapichana – Líder da REDE na Câmara
Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica
Mariana Belmont, jornalista colunista do Ecoa-UOL.
Marina Helou, deputada estadual (REDE-SP).
Miriam Prochnow, ambientalista, vice-presidente da Apremavi
Nilce Pontes Pereira, CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
Paulina Chamorro, jornalista e cofundadora da Liga das Mulheres pelos Oceanos.

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