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Bacia do Tietê tem apenas 7% de Mata Atlântica preservada

29 de setembro de 2016

Artigo de Marcia Hirota e Malu Ribeiro, originalmente publicado no Blog do Planeta – No Dia do Tietê (22/9), comemorado na semana passada, a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou novos dados do monitoramento da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto de Despoluição do Rio Tietê. De acordo com o estudo, 137 km do rio estão “mortos” e a poluição do principal rio paulista ainda é um problema grave.

A mancha de poluição teve uma tímida melhora se comparada ao ano anterior, quando era de 154,7 km. A leve tendência de evolução neste ano se deve às chuvas que reabasteceram os reservatórios e contribuíram para a recuperação da vazão dos rios, ampliando a capacidade de diluição dos remanescentes de esgoto e poluição. Entretanto, a mesma chuva aumentou também a poluição difusa na bacia, carregando para dentro do rio muito lixo, resíduos, sedimentos e fuligem de asfalto.

O fenômeno tem relação direta com a falta de cobertura vegetal nativa nas margens dos rios – as matas ciliares –, pois a presença dessa vegetação garante a proteção contra erosão, assoreamento, invasão, ocupação e poluentes que são carregados pelas chuvas.

Em 25 anos de monitoramento, esta é a primeira vez que associamos a análise da qualidade da água aos remanescentes florestais da Mata Atlântica na bacia do Tietê. Uma avaliação da atual situação da cobertura florestal da Mata Atlântica na bacia, que não considera a área do Cerrado paulista, mostra que restam nos municípios que a compõe apenas 7% de Mata Atlântica – 310 mil hectares (ha) frente aos 4.234 mil ha originais.

A análise teve como base a última edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que conta com a execução técnica da Arcplan e patrocínio do Bradesco Cartões. A base do Atlas do período 2014-2015 utiliza a tecnologia de sensoriamento remoto e geoprocessamento para identificar os remanescentes florestais acima de 3 ha. Nesse estudo inédito, foram mapeados remanescentes florestais e áreas naturais de até 1 ha.

A bacia do Tietê é dividida em seis regiões hidrográficas ou unidades de gerenciamento de recursos hídricos. A região do Alto Tietê, apesar de altamente adensada, ainda é a que concentra maior porção de remanescentes florestais da Mata Atlântica, 21% do território. A região do Médio Tietê abrange áreas do bioma Cerrado. Em Tietê/Sorocaba, conta com 9% da cobertura florestal original da Mata Atlântica, seguida da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, com apenas 6%, e da região do Tietê/Batalha, que apresenta o mesmo índice. Nas demais bacias do oeste paulista a situação ainda é mais crítica, restam apenas 3% da Mata Atlântica original.

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A falta de vegetação nativa e o uso inadequado do solo contribuem para a degradação da água, com impactos sobre a qualidade e a quantidade. Além disso, o desmatamento também potencializa os impactos do clima e afeta de forma direta o ciclo hidrológico, com a diminuição da infiltração de água no solo, rebaixamento dos lençóis freáticos, secamento de nascentes e mananciais.

Na região do Alto Tietê, na divisa dos municípios de Paraibuna e Salesópolis, estão as nascentes que formam o rio, hoje felizmente protegidas pelo Parque Nascentes do Rio Tietê. O Parque foi criado pelo Governo do Estado de São Paulo em 1988 por meio de um decreto, mas a área da principal nascente do Tietê, de propriedade de Terezinha Pinto Ramos, foi desapropriada apenas em 1996, com o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica.

Para agilizar e facilitar o processo, a Fundação comprou a área da Dona Terezinha com recursos doados pela empresa Dixie-Toga, com o intuito de diminuir a resistência ao procedimento de desapropriação. Posteriormente, a organização apoiou – com parceiros locais – o plano de manejo do Parque, que é administrado pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão do Estado de São Paulo. O processo tramitou na justiça por 20 anos e apenas em julho deste ano foi finalmente concluído. A SOS Mata Atlântica foi indenizada e os recursos serão usados em prol do Rio Tietê.

A área das nascentes, antes desmatada por dois ciclos econômicos – primeiramente, o corte de madeira para carvão e, depois, a criação de pastagens – foi restaurada e hoje está novamente protegida pela Mata Atlântica. Um exemplo de recuperação que deve servir de modelo para as demais áreas degradas ao longo da Bacia do Tietê.

O fato é que os baixos índices de saneamento básico continuam sendo a principal fonte de contaminação do rio, mas a análise sobre a cobertura vegetal prova que solucionar este problema não basta para recuperar e proteger o Tietê. Somente com um programa integrado de saneamento ambiental, que some às ações atualmente realizadas, programas de recomposição florestal e conservação de mananciais, alcançaremos a tão sonhada despoluição desse importante rio. Tietê vivo, essa é nossa luta!

 

*Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica; Malu Ribeiro é coordenadora da Rede das Águas da organização. A SOS Mata Atlântica é uma ONG brasileira que desenvolve projetos e campanhas em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades. Saiba como apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.

 

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