Mapeamento divulgado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) no periódico científico Perspectives in Ecology and Conservation indicou a existência de 32 milhões de hectares de vegetação nativa no domínio da Mata Atlântica no país, o que corresponde a 28% do bioma.
Nesse sentido, a repercussão do estudo motivou alguns questionamentos sobre a área de vegetação do bioma que vem sendo divulgada, há mais de 30 anos, pelo Atlas da Mata Atlântica, monitoramento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Isso porque, segundo o Atlas da Mata Atlântica, restam 13,4 milhões de hectares das florestas nativas mais preservadas acima de 3 hectares, o equivalente a 12,4% da área de aplicação da Lei da Mata Atlântica (11.428/2006).
Para esclarecer a diferença nestes valores é necessário, primeiramente, avaliar o material utilizado e a estratégia metodológica adotada por ambas as iniciativas de mapeamento.
Como se dão os mapeamentos
O levantamento da FBDS examinou imagens do satélite RapidEye adquiridas com resolução espacial de 5 metros. Para a identificação e delimitação (mapeamento) da vegetação do bioma foi adotada uma combinação de procedimentos computacionais e manuais, com o objetivo de obter um mapeamento de alta qualidade. Trata-se de um estudo que produziu um retrato da cobertura florestal utilizando um conjunto de imagens disponíveis nos anos de 2011, 2012 e 2013.
No caso do mapeamento da SOS Mata Atlântica/INPE, primeiramente, as imagens são originadas pelos sensores dos satélites do programa Landsat, que geram imagens com 30 metros de resolução. Logo depois, essas imagens são submetidas à interpretação visual que permite a delimitação de fragmentos florestais com área mínima de 3 hectares.
Diferentemente do estudo da FBDS, a metodologia empregada na elaboração do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica considera apenas áreas de florestas nativas em estágios médio e avançado de regeneração, ou seja, áreas mais preservadas e que são essenciais à conservação da biodiversidade no longo prazo. Assim, áreas de menor dimensão, ou que possuam vegetação muito alterada, não são contabilizadas.
Portanto, as principais diferenças entre os mapeamentos estão nas metodologias de classificação adotadas, bem como na resolução das imagens utilizadas, nas distintas abordagens sobre o estágio de sucessão das áreas de florestas analisadas e, por fim, nas áreas que foram mapeadas – área de aplicação da Lei da Mata Atlântica, no caso da SOS Mata Atlântica/INPE; e área do bioma, no caso da FBDS. Desta forma, é necessário muito cuidado na comparação destes mapeamentos.
Quais seriam os dados mais precisos?
Apesar disso, é possível observar que os dados da SOS Mata Atlântica/INPE e da FBDS, quando analisados em conjunto com uma terceira iniciativa de mapeamento, o MapBiomas[1], do qual a SOS Mata Atlântica faz parte, resultam em valores mais consistentes entre si, indicando que a Mata Atlântica possui cerca de 12-17% de sua área coberta com matas em melhor estado de conservação, 24-26% de cobertura florestal, considerando qualquer tipo de floresta, e 27-29% de vegetação nativa, incluindo-se formações não-florestais, conforme tabela abaixo:
Descrição |
Atlas da Mata Atlântica |
FBDS |
MapBiomas |
|||
Área (ha) |
% |
Área (ha) |
% |
Área (ha) |
% |
|
Matas bem preservadas com mais de 100 ha |
11.884.069 |
9,07% |
Não mapeado |
– |
15.879.027 |
14.3% |
Matas bem preservadas com mais de 3 ha |
16.272.514 |
12,42% |
Não mapeado |
– |
19.049.886 |
17,2% |
Todo tipo de mata com mais de 3 ha (incluindo pequenos fragmentos isolados, áreas degradadas, matas ciliares e restingas) |
Não mapeado |
– |
27.004.738 |
24,4% |
29.714.531 |
26,8% |
Todo tipo de vegetação nativa com mais de 3 ha |
Não mapeado |
– |
28.876.403 |
27,9% |
32.419.867 |
29,3% |
Todo tipo de mata sem filtro por tamanho de fragmento |
Não mapeado |
– |
28.876.557 |
26,1% |
31.460.828 |
28,3% |
Todo tipo de vegetação nativa sem filtro por tamanho de fragmento |
Não mapeado |
– |
31,889,759 |
28,7% |
33.550.891 |
30,2% |
Em conclusão, ressaltamos que esses mapeamentos se complementam: a iniciativa da SOS Mata Atlântica/INPE dá maior ênfase às florestas mais desenvolvidas e preservadas; enquanto a FBDS e o MapBiomas destacam o total de vegetação nativa, independente do grau de conservação. Todos esses dados devem, portanto, ser valorizados, pois embasam diferentes ações de monitoramento, conservação e recuperação da Mata Atlântica.
Flavio Jorge Ponzoni, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE
Jean Paul Metzger, Universidade de São Paulo – USP
Marcia Hirota, Fundação SOS Mata Atlântica
Marcos Reis Rosa, Arcplan
Tasso Azevedo, Mapbiomas
Para conhecer mais sobre as metodologias do Atlas da Mata Atlântica e do MapBiomas, confira o documento “Metodologia adotada pelas iniciativas de monitoramento do Atlas da Mata Atlântica e MapBiomas”
Boa tarde, gostaria de saber qual a situação atual ou a mais recente da area remanescente de floresta de mata atlantica Brasil e estado de São Paulo. muito obrigado
Vários condomínios em ilhéus estão desmatando áreas de floresta fechada da mata Atlântica não vejo nenhuma medida sendo feita… um inclusive acabou de ser aprovado e já vão derrubar
Bom dia.
Gostaria de saber o que aconteceu com a cobertura da Mata Atlântica ao longo do tempo?
E os motivos que ocasionaram as transformações na Mata Atlântica.
Boa tarde Sueli, tudo bem? Desejo que sim.
A perda da cobertura original da Mata Atlântica está vinculada a nossa história, desde a chegada dos portugueses, passando pelos ciclos econômicos e crescimento da população.
No link a seguir você encontra um documentário muito bom que explica tudo direitinho. Assista! http://www.casadecinema.com/a-produtora/mata-atlantica/