* Artigo de Márcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica
Roberto Klabin, empresário, ambientalista, fundador, ex-presidente e atual vice-presidente da Fundação SOS Mata Atlântica é um visionário que tem espírito inovador e empreendedor, sempre à frente do seu tempo. Sua generosidade e sensibilidade ambiental vão muito além do idealismo e está presente no engajamento a muitas causas e na concretude de suas ideias. A mais recente, um projeto para criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural. Roberto Klabin adotou a figura RPPN para eternizar a memória de seus pais.
A primeira, RPPN Dona Aracy, foi criada em 2004 e é uma homenagem à sua mãe. A reserva de 5,6 mil hectares está localizada no Refúgio Ecológico Caiman, no Pantanal, onde circulam livremente inúmeras espécies de animais e estão baseadas iniciativas bem sucedidas na conservação da arara-azul (Instituto Arara Azul), onça-pintada (Onçafari) e projeto papagaio-verdadeiro. Agora, uma área de 168,9 hectares anexa à Fazenda Aracy em Imbaú, na Mata Atlântica do Paraná, está sendo transformada e foi doada por ele à empresa Klabin para a criação futura da RPPN Samuel Klabin, em memória ao seu pai. Parte dessa área era de floresta plantada com pinus e eucalipto e foi restaurada com espécies nativas pela ONG Apremavi. Com a venda da madeira, ele instalou na fazenda um Centro de Visitantes e Trilhas Ecológicas para futuras atividades de educação e conscientização ambiental e uma Torre de Observação, na qual será possível acompanhar a restauração da floresta na Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi. O compromisso firmado com a Klabin com todos os equipamentos e estrutura instalados é que essa área seja transformada em RPPN em homenagem ao Sr. Samuel Klabin e sua história na empresa.
As RPPNs são um instrumento instituído por decreto em 1990 e, desde 2000, passaram a ser uma categoria do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, tal como um Parque Nacional ou uma Área de Proteção Ambiental (APA). O que a diferencia é ser criada por iniciativa de proprietários de terras que destinam parte de suas propriedades para proteger a natureza, além do que a legislação exige. As RPPNs são reconhecidas pelos órgãos ambientais – na gestão federal junto ao ICMBio, e também pelos governos estaduais e em algumas prefeituras municipais. É um generoso ato voluntário preservar a floresta e a biodiversidade local em caráter perpétuo para as atuais e futuras gerações.
As RPPNs têm conquistado um espaço cada vez maior na proteção dos biomas e ecossistemas brasileiros. No Brasil, são mais de 1.733 reservas que protegem mais de 810 mil hectares. Na Mata Atlântica se concentra o maior número, são 1.268 no total, que protegem 236 mil hectares. Pouco mais da metade, cerca de 125 mil hectares, estão distribuídos por 350 reservas criadas ou financiadas por empresas ou instituições do 3º setor, segundo dados da Confederação Nacional de RPPN. Ou seja, as reservas coorporativas, mesmo em menor número, acabam por abranger mais da metade das áreas protegidas por RPPN nesse bioma.
Considerando que grande parte do que resta da Mata Atlântica está em mãos de proprietários privados, essa agenda é muito importante para a estratégia de conservação da biodiversidade. As RPPNs contribuem na conexão entre fragmentos florestais preservados ou em recuperação e muitas vezes são essenciais na conservação de espécies, formam corredores para a fauna, protegem a água e outros serviços de grande valor à sociedade. Várias delas abrigam belíssimas paisagens, rios, cachoeiras, trilhas, têm estrutura e recebem visitantes, hóspedes, estudantes, professores, pesquisadores e proporcionam experiências incríveis. Já conheci muitas, como a RPPN Salto Morato, da Fundação Grupo Boticário, RPPN Fazenda Bulcão, de Sebastião e Lelia Salgado, RPPN Águia Branca no Espírito Santo, RPPN Águas da Bocaina em São Paulo, RPPN Feliciano Miguel Abdalla em Minas Gerais e outras belíssimas áreas!
As reservas corporativas têm origem de vários setores produtivos e na Mata Atlântica se destacam o setor sucro-alcoleiro, agropecuário, mineração, energia, imobiliário, hoteleiro, empresa de turismo, têxtil, cosméticos, transporte e associações do terceiro setor.
O setor florestal para papel e celulose tem aproximadamente 25 reservas e a RPPN Samuel Klabin será a terceira da Klabin, que já possui a RPPN Fazenda Monte Alegre, no Paraná, e a RPPN Complexo Serra da Farofa, em Santa Catarina. Juntas, elas totalizam mais de 9 mil hectares de área protegida na Mata Atlântica. A Klabin ainda possui um fantástico Parque Ecológico em Telêmaco Borba (PR), uma área de quase 10 mil hectares que visitei recentemente e conta com equipe, um Centro de Interpretação da Natureza totalmente modernizado, boa estrutura, recintos de fauna, epifitário, trilhas em uma floresta exuberante, cheia de belíssimas araucárias. Um grande cartão de visitas da Mata Atlântica voltado para a conservação da biodiversidade.
Esta empresa é uma das primeiras parcerias da SOS Mata Atlântica e apoiou o início do trabalho de monitoramento do bioma, com o Atlas dos Remanescentes florestais da Mata Atlântica, que desenvolvemos com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Atualmente, a Klabin apoia nosso trabalho em prol do fortalecimento das Unidades de Conservação da Mata Atlântica, graças ao empenho do Roberto Klabin.
A valorização de parques e reservas é uma agenda prioritária para a SOS Mata Atlântica e, ao longo de 35 anos de existência, apoiamos mais de 500 Unidades de Conservação, incluindo a criação e implementação de 400 RPPNs no bioma com a ajuda nossos parceiros.
Pelo futuro da proteção da biodiversidade da Mata Atlântica, lutamos para que essa agenda cresça mais e mais e exemplos como esses e de outros proprietários de RPPN inspirem o surgimento de novas reservas. Eles são verdadeiros guardiões da natureza!