Pesquisadores apontam locais chave para a restauração de florestas tropicais em 66 países, onde as novas florestas proporcionariam os maiores benefícios para o clima, água e vida selvagem
Em um artigo científico divulgado ontem (3/07) pela revista Science Advances, uma equipe internacional de pesquisadores identificou mais de 100 milhões de hectares onde florestas tropicais foram desmatadas na América Central e do Sul, África e sudeste da Ásia, que apresentam as oportunidades mais convincentes de restauração para mitigar as mudanças climáticas, escassez de água e a extinção da vida vegetal e animal. Brasil, Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia têm a maior área acumulada de hotspots de restauração – áreas que maximizam os benefícios e viabilidade de restauração; Seis países africanos – Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar – abrigam as áreas que apresentam as melhores oportunidades de restauração, em média.
“Restaurar florestas tropicais é fundamental para a saúde do planeta, agora e para as próximas gerações”, disse o principal autor do estudo, Pedro Brancalion, da Universidade de São Paulo (USP). “Pela primeira vez, nosso estudo ajuda governos, investidores e outros que buscam restaurar florestas tropicais em escala global a determinar locais precisos onde a restauração de florestas é mais viável, duradoura e benéfica. Restaurar florestas é hoje imprescindível – e é factível ”.
Os 12 autores do estudo da Science Advances, Global restoration opportunities in tropical rainforest landscapes, usaram imagens de satélite de alta resolução e as mais recentes pesquisas científicas sobre quatro benefícios da restauração (biodiversidade, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e segurança hídrica) e três aspectos da viabilidade da restauração (custo, risco de investimento e a probabilidade de florestas restauradas sobreviverem no futuro) para atribuir uma pontuação de oportunidade de restauração a cada trecho de 1 quilômetro quadrado distribuído em toda a região tropical.
Foram consideradas hotspots de restauração as áreas colocadas entre as 10% de maior pontuação dentre todas as avaliadas no mundo, o que significa que restaurá-las seria o mais benéfico e o menos dispendioso e arriscado.
Na maioria dos casos, os hotspots de restauração se sobrepõem a plantações e pastagens atualmente em uso pelos agricultores. Como resultado, o estudo mostra que a restauração de florestas é mais viável em terras de baixo valor para a produção agrícola. Alternativamente, os pesquisadores argumentam que a restauração pode ser associada a formas de produção geradoras de renda, por exemplo, enriquecendo pastagens com árvores, colhendo produtos baseados na floresta, como madeira, e cultivando café ou cacau sob um dossel florestal. Quaisquer decisões sobre mudanças no uso da terra devem envolver totalmente as comunidades locais, uma vez que a restauração deve complementar ao invés de competir com a segurança alimentar e os direitos à terra. Em outros casos, esses hotspots incluem áreas abandonadas e degradadas ou terras públicas.
“A restauração envolve muito mais do que simplesmente plantar árvores”, disse Chazdon. “Começa com a necessidade de acordos mutuamente benéficos com aqueles que atualmente usam a terra e não termina até que as florestas hospedem a rica diversidade de plantas e animais que as tornam tão inspiradoras e valiosas. Felizmente, estudos mostram que não leva muito tempo para que os benefícios das novas florestas voltem a serem obtidos. ”
Brancalion acrescenta: “Promessas e acordos como o Desafio de Bonn e a Declaração de Nova York sobre Florestas mostram que há vontade de restaurar e proteger as florestas. Com a ferramenta que desenvolvemos, países, empresas e outros atores que se comprometeram a restaurar florestas têm as informações precisas de que precisam para arregaçar as mangas e mergulhar no difícil trabalho de trazer nossas florestas de volta. Não há atalhos quando se trata da restauração florestal, mas muitas oportunidades que ainda podem ser aproveitadas para impulsionar essa atividade, antes que seja tarde demais”.
“O estudo reforça a importância global da Mata Atlântica, onde, o enfrentamento às mudanças climáticas, perda de diversidade, através da restauração florestal, carrega ainda benefícios socioeconômicos, gerando emprego e renda e podendo consolidar e abrir novos mercados para produtos desta região”, afirma Rafael Bitante Fernandes, gerente de Restauração Florestal da Fundação SOS Mata Atlântica.