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Estudo revela que a Mata Atlântica apresenta melhores oportunidades para a restauração de florestas tropicais em todo o mundo

11 de julho de 2019

Pesquisadores apontam locais chave para a restauração de florestas tropicais em 66 países, onde as novas florestas proporcionariam os maiores benefícios para o clima, água e vida selvagem

Em um artigo científico divulgado ontem (3/07) pela revista Science Advances, uma equipe internacional de pesquisadores identificou mais de 100 milhões de hectares onde florestas tropicais foram desmatadas na América Central e do Sul, África e sudeste da Ásia, que apresentam as oportunidades mais convincentes de restauração para mitigar as mudanças climáticas, escassez de água e a extinção da vida vegetal e animal. Brasil, Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia têm a maior área acumulada de hotspots de restauração – áreas que maximizam os benefícios e viabilidade de restauração; Seis países africanos – Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar – abrigam as áreas que apresentam as melhores oportunidades de restauração, em média.

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“Restaurar florestas tropicais é fundamental para a saúde do planeta, agora e para as próximas gerações”, disse o principal autor do estudo, Pedro Brancalion, da Universidade de São Paulo (USP). “Pela primeira vez, nosso estudo ajuda governos, investidores e outros que buscam restaurar florestas tropicais em escala global a determinar locais precisos onde a restauração de florestas é mais viável, duradoura e benéfica. Restaurar florestas é hoje imprescindível – e é factível ”.

Os 12 autores do estudo da Science Advances, Global restoration opportunities in tropical rainforest landscapes, usaram imagens de satélite de alta resolução e as mais recentes pesquisas científicas sobre quatro benefícios da restauração (biodiversidade, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e segurança hídrica) e três aspectos da viabilidade da restauração (custo, risco de investimento e a probabilidade de florestas restauradas sobreviverem no futuro) para atribuir uma pontuação de oportunidade de restauração a cada trecho de 1 quilômetro quadrado distribuído em toda a região tropical.

Foram consideradas hotspots de restauração as áreas colocadas entre as 10% de maior pontuação dentre todas as avaliadas no mundo, o que significa que restaurá-las seria o mais benéfico e o menos dispendioso e arriscado.

  • Os 15 principais países com a maior áreas de hotspots de restauração foram encontrados em todos os biomas ou zonas florestais tropicais: três nos Neotrópicos, cinco nos Afrotrópicos e sete na Indo-Malásia e Australásia.
  • Os cinco países com maior área de hotspots de restauração são Brasil, Indonésia, Índia, Madagascar e Colômbia.
  • Os seis países com a maior pontuação média foram encontrados na África: Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar. “Ficamos surpresos ao encontrar tal concentração de países altamente classificados em um único continente”, disse a co-autora Robin Chazdon. “O estudo realmente destaca o alto potencial para resultados bem-sucedidos de restauração de florestas tropicais nesses países africanos.”
  • Cerca de 87% dos pontos críticos de restauração foram encontrados em hotspots para a conservação da biodiversidade, áreas que mantêm altas concentrações de espécies não encontradas em nenhum outro lugar, mas que apresentam alto risco de serem destruídas pela ação humana.
  • A Mata Atlântica foi o hotspot global para a conservação da biodiversidade com a maior área de hotspots para a restauração, destacando a grande oportunidade que este bioma apresenta para receber investimentos internacionais de restauração;
  • Setenta e três por cento dos hotspots de restauração foram encontrados em países que assumiram compromissos de restauração junto ao Bonn Challenge, um esforço global para restaurar 150 milhões de hectares de paisagens florestais desmatadas e degradadas no mundo até 2020, e 350 milhões de hectares até 2030. “É encorajador que tantos hotspots da restauração estejam localizados em países onde a restauração de florestas e paisagens já é uma prioridade”, disse Brancalion.

Na maioria dos casos, os hotspots de restauração se sobrepõem a plantações e pastagens atualmente em uso pelos agricultores. Como resultado, o estudo mostra que a restauração de florestas é mais viável em terras de baixo valor para a produção agrícola. Alternativamente, os pesquisadores argumentam que a restauração pode ser associada a formas de produção geradoras de renda, por exemplo, enriquecendo pastagens com árvores, colhendo produtos baseados na floresta, como madeira, e cultivando café ou cacau sob um dossel florestal. Quaisquer decisões sobre mudanças no uso da terra devem envolver totalmente as comunidades locais, uma vez que a restauração deve complementar ao invés de competir com a segurança alimentar e os direitos à terra. Em outros casos, esses hotspots incluem áreas abandonadas e degradadas ou terras públicas.

“A restauração envolve muito mais do que simplesmente plantar árvores”, disse Chazdon. “Começa com a necessidade de acordos mutuamente benéficos com aqueles que atualmente usam a terra e não termina até que as florestas hospedem a rica diversidade de plantas e animais que as tornam tão inspiradoras e valiosas. Felizmente, estudos mostram que não leva muito tempo para que os benefícios das novas florestas voltem a serem obtidos. ”

Brancalion acrescenta: “Promessas e acordos como o Desafio de Bonn e a Declaração de Nova York sobre Florestas mostram que há vontade de restaurar e proteger as florestas. Com a ferramenta que desenvolvemos, países, empresas e outros atores que se comprometeram a restaurar florestas têm as informações precisas de que precisam para arregaçar as mangas e mergulhar no difícil trabalho de trazer nossas florestas de volta. Não há atalhos quando se trata da restauração florestal, mas muitas oportunidades que ainda podem ser aproveitadas para impulsionar essa atividade, antes que seja tarde demais”.

“O estudo reforça a importância global da Mata Atlântica, onde, o enfrentamento às mudanças climáticas, perda de diversidade, através da restauração florestal, carrega ainda benefícios socioeconômicos, gerando emprego e renda e podendo consolidar e abrir novos mercados para produtos desta região”, afirma Rafael Bitante Fernandes, gerente de Restauração Florestal da Fundação SOS Mata Atlântica.

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