SAD Mata Atlântica pode identificar cortes de floresta com precisão e detalhamento, além de reportá-los com agilidade à sociedade e às autoridades
1 de fevereiro de 2022Edição piloto abrangeu quatro regiões de relevância para o monitoramento do bioma: as bacias do Rio Tietê (SP), do Rio Iguaçu (PR), do Rio Jequitinhonha (BH e MG) e o município de Bonito (MS), registrando um total de 1.103 alertas e 6.739 mil hectares desmatados em 2021
Para intensificar o monitoramento da cobertura florestal e contribuir para o fim do desmatamento do bioma mais ameaçado e devastado do Brasil, a Fundação SOS Mata Atlântica, a Arcplan e o MapBiomas lançam o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica, nova ferramenta para monitorar e difundir informações sobre o desflorestamento na região.
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O sistema permite identificar e reportar com agilidade desmatamentos em áreas a partir de 0,3 hectare (ha), monitorados com o uso de imagens de satélite de alta resolução. Além disso, o novo sistema gera alertas mensais, agilidade que permitirá o apoio em tomadas de decisão, tanto de órgãos de fiscalização ambiental (IBAMA, Ministérios Públicos estaduais e secretarias, órgãos e polícias ambientais, entre outros), quanto de entidades que têm políticas mandatórias ou voluntárias para a compra de produtos ou financiamento de cadeias produtivas com desmatamento zero (como bancos, traders, supermercados e a indústria de alimentos, de madeira, celulose e de bioenergia).
O primeiro boletim do SAD Mata Atlântica reúne alertas coletados e validados durante todo o ano de 2021, apresentando os primeiros resultados parciais do desmatamento do bioma no período. Trata-se de uma edição piloto em que foram compilados os alertas de quatro regiões: as bacias hidrográficas do Rio Tietê (São Paulo), do Rio Iguaçu (Paraná), do Rio Jequitinhonha (Bahia e Minas Gerais) e dos Rios Miranda e Aquidauana, na região do município de Bonito (Mato Grosso do Sul). Esta primeira edição do boletim teve apoio da Flex Foundation.
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Mapa com a identificação das áreas de avaliadas no primeiro boletim SAD Mata Atlântica
O diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto explica que esses locais foram selecionados para o piloto pelo fato de Minas Gerais, Bahia, Paraná e São Paulo estarem entre os campeões do desmatamento na Mata Atlântica nos últimos anos. “Nesses estados escolhemos bacias hidrográficas onde o problema costuma ser mais crítico, principalmente em função da expansão agropecuária. A bacia do Rio Tietê em São Paulo não está entre as regiões de maior desmatamento do Brasil, mas tem a particularidade de ser uma região de metrópoles e grandes cidades, onde a expansão urbana também ameaça a Mata Atlântica”, explica. Bonito (MS), por sua vez, foi o município que mais desmatou o bioma entre 2019 e 2020.
Nas quatro bacias monitoradas em 2021 houve 1.103 alertas que somam 6.739 mil ha de desmatamento. Cada hectare corresponde, em média, à área de um campo de futebol.
A grande maioria dos alertas (70%) se refere a perdas menores que três hectares, ressaltando o novo perfil do desmatamento da Mata Atlântica, composto por uma soma de pequenos cortes de floresta natural, o que impõe dificuldades à fiscalização. A bacia do Iguaçu (PR e SC) foi a campeã em número de alertas com esse perfil: 423.
Na bacia do Iguaçu também foi registrada a maior quantidade total de alertas, 528 (48%). A área desmatada (1.162 ha), no entanto, ficou abaixo da detectada na região de Bonito (MS), onde 137 alertas (12%) identificaram 3.223 ha desmatados.
Já a Bacia do Rio Jequitinhonha (BA e MG) teve a segunda maior área desmatada (2.212 ha ou 33% de toda a mata perdida). A maior parte dos alertas ocorreu em Minas Gerais (240 ou 22%), com 743 ha desmatados. Na Bahia foram mapeados 107 alertas (9%), porém maiores em área, que somaram 1.469 ha de desflorestamentos.
Outros 91 alertas e 144 ha de desmatamento foram identificados na bacia do Rio Tietê, na Mata Atlântica do estado de São Paulo. Em todas as regiões monitoradas, 14 municípios têm desmatamentos que totalizam mais de 100 ha, sendo Nioaque (MS) o primeiro da lista, somando 1.260 ha.
A maioria absoluta dos alertas foi identificada em áreas rurais e com predomínio de uso agropecuário (93,7%), apontando a expansão do setor como o principal vetor do desmatamento na Mata Atlântica. Somente o estado de São Paulo teve uma distribuição diferente, com 34,8% dos alertas identificados em área urbana, como consequência da expansão das cidades, sendo este um importante vetor de desmatamento na região metropolitana de São Paulo.
Segundo Guedes Pinto, os novos dados confirmam que, ainda que a Lei da Mata Atlântica esteja em vigor, o desmatamento segue como um grande problema no bioma. “Continuamos perdendo florestas antigas e maduras, porém cada vez mais observamos o corte de matas jovens, que estão em regeneração. Essa vegetação tem um papel muito importante para conectar os remanescentes florestais mais antigos e prover serviços ecossistêmicos, como a conservação da água, mas muitas dessas áreas em regeneração são desmatadas antes de a vegetação atingir um estágio de maior maturidade, quando podem acumular mais carbono e abrigar maior biodiversidade. Por isso a conservação da Mata Atlântica depende de uma estratégia que combine restauração, plantio de árvores nativas e combate ao desmatamento”, afirma.
A partir do próximo relatório do SAD Mata Atlântica, todo o bioma será monitorado seguindo os limites do mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica.
Todos os dados do SAD Mata Atlântica serão disponibilizados mensalmente na plataforma MapBiomas Alerta e os resultados serão reunidos em boletins trimestrais publicados pela Fundação SOS Mata Atlântica (clique aqui e acesse os boletins)
Metodologia
O tamanho médio de cada área desmatada da Mata Atlântica vem diminuindo ao longo dos anos. São hoje comuns perdas inferiores a três hectares e em florestas nativas jovens, condições diferentes daquelas tradicionalmente monitoradas pelo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – colaboração entre o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a SOS Mata Atlântica que se tornou referência ao, ano a ano, desde 1989, acompanhar a cobertura florestal e o desmatamento do bioma.
Complementando e aprimorando o monitoramento anual realizado pelo Atlas, o SAD Mata Atlântica utiliza uma identificação automatizada baseada na comparação entre imagens com 10 metros de resolução registradas por satélites Sentinel 2. “Esse método é capaz de detectar indícios de desmatamento a partir de 0,3 hectare, que são validados, refinados e auditados individualmente em imagens de alta resolução e cruzados com informações públicas, incluindo as propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e embargos e autorizações de desmatamento do SINAFLOR/IBAMA, para disponibilização no MapBiomas Alerta, uma plataforma única, aberta e transparente que monitora todo o território brasileiro”, afirma Marcos Rosa, diretor da Arcplan.
Para Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, essa abordagem “proporciona uma nova lente para monitorar a vegetação nativa da Mata Atlântica e colaborar para o fim definitivo do seu desmatamento, o que é essencial para a mitigação das mudanças climáticas, para a conservação da água e da biodiversidade e para a prosperidade do Brasil”, completa. “O SAD Mata Atlântica se une a outros sistemas de alerta dos biomas brasileiros, formando uma rede de organizações da sociedade civil e de entidades de pesquisa que monitora todos os ecossistemas do Brasil”, completa Azevedo.
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