2020 marca os 30 anos da primeira RPPN do Brasil, categoria de área protegida crucial para a Mata Atlântica
21 de outubro de 2020Em 2020, mesmo com a pandemia de Covid-19 provocando drásticos impactos na população mundial, alguns proprietários rurais seguiram com seus sonhos e engajamento pela criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Trata-se de uma categoria de Unidade de Conservação criada voluntariamente por proprietários de terras que destinam parte de suas propriedades para a conservação da natureza, além do que a legislação exige.
Em julho deste ano, em Itaiópolis (SC), por exemplo, foi criada a RPPN Taipa Rio do Couro II, que contou com apoio financeiro da Fundação SOS Mata Atlântica. A área transformada em RPPN é de 99 hectares e tem como proprietários Germano Woehl Jr e Elza Nishimura Woehl, que já totalizam mais de 1.000 hectares em áreas na região que protegem uma riquíssima diversidade de plantas e animais, muitos ameaçados de extinção.
No Rio de Janeiro foi possível constatar avanços na criação e gestão das reservas particulares no estado. Entre março e agosto, seis RPPNs foram criadas – a partir da aprovação dos processos de solicitação pelos órgãos ambientais. Ao todo, elas vão conservar mais de 90 hectares da Mata Atlântica do Rio de Janeiro.
Outras seis deram entrada em processos para criação no Estado. Quatro no município de Varre-Sai, que totalizam 60 hectares, uma de oito hectares em Nova Friburgo e outra de quatro hectares em São Pedro da Aldeia. Com isso, são mais de 70 hectares de Mata Atlântica que continuarão preservados na região.
“Os proprietários de RPPN são grandes guardiões da natureza e exercem a cidadania pelo bem da coletividade e do meio ambiente. São 1237 reservas na Mata Atlântica e destas, apoiamos diretamente 397 com nossos parceiros desde 2003. A conservação em terras privadas é fundamental para a Mata Atlântica, que possui 80% em mãos de particulares e essa agenda é prioritária para nós“ afirma Marcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica.
Vale destacar que, apesar de serem Unidades de Conservação por lei de forma perpétua, as reservas privadas possibilitam atividades de lazer, educação, pesquisa e visitação, podendo ser inclusive uma opção de passeio para aqueles que desejam se reconectar com a natureza. Veja algumas reservas que podem ser visitadas.
As reservas podem ser criadas pelo ICMBio, na esfera federal, por 18 estados que já possuem legislação específica, sendo 15 abrangidos pela Mata Atlântica, além de 18 municípios, com destaque para Curitiba (PR), Extrema (MG), Itamonte (MG), Japeri (RJ), Miguel Pereira (RJ), Miracema (RJ), Muriaé (MG), Passo Fundo (RS), Paulo de Frontin (RJ), Petrópolis (RJ), Porto Belo (SC), Quissamã (RJ), Resende (RJ), Rio Claro (RJ), Santa Maria (RS), São Paulo (SP),Varre Sai (RJ) que estão nos limites do bioma. “Muitos desses têm trazido inovações com relação ao incentivos financeiros e de apoio às RPPNs“, afirma Monica Fonseca, consultora da SOS Mata Atlântica e especialista no tema.
“A pandemia ocasionada pela Covid-19 trouxe uma nova percepção de importância das RPPNs, além de tantas outras já conhecidas. O estado do Rio de Janeiro, do início da pandemia no Brasil, até hoje, teve resultados efetivos de criação e apoio à gestão de RPPNs. Diferentemente das Unidades de Conservação públicas que, ao que parece, não tiveram avanços no país quanto a criação de novas, nas esferas federal e estaduais, as unidades particulares, felizmente, conseguiram avançar mesmo em condições adversas“, afirma Roberta Guagliardi, advogada ambiental e coordenadora executiva do Projeto RPPN/Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro por meiodo Instituto Terra de Preservação Ambiental (ITPA).
O Brasil possui hoje 1.665 reservas privadas certificadas. Somente na Mata Atlântica são 1.237, que protegem 236 mil hectares do bioma. Para celebrar os 30 anos da primeira RPPN do Brasil, a Fundação SOS Mata Atlântica está realizando diversos eventos em homenagem aos proprietários destas áreas. Saiba mais e participe.
Na última semana, a organização também realizou o “Mata Atlântica em Debate“, que contou com a participação de Miriam Leitão e Marcos Palmeira. Eles falaram sobre suas histórias de engajamento pela conservação da Mata Atlântica, experiências e desafios por meio das reservas particulares que criaram. Veja como foi!
Além disso, no dia 15, às 17h, a organização participou do Proteja Talks “RPPNs: o olhar privado para a conservação“, como parte da programação da campanha Um Dia no Parque 2020. Na ocasião, quatro proprietários de terra contaram suas experiências como donos de reservas privadas. Assista!
Foto destaque: RPPN Taipa Rio do Couro II