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Joana, a peixe-boi resgatada com plástico no estômago, alerta para a realidade de poluição nos oceanos brasileiros

14 de fevereiro de 2022

No ano de 2010, no litoral do Ceará, começava a história de Joana, um peixe-boi resgatada e cuidada pelos veterinários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Muito ativa e frequentadora assídua da região por seus hábitos alimentares, Joana ajudou os especialistas a entenderem muito sobre a realidade do mamífero marinho mais ameaçado de extinção no Brasil.

Joana voltou ao seu habitat natural, no rio Tatuamunha (AL), ainda no ano de 2014, e seu acompanhamento se manteve de forma constante. Justamente por isso, em outubro de 2021 os especialistas notaram que a peixe-boi se comportava de maneira atípica, chamando a atenção para uma nova intervenção em seu favor. Pelo princípio da preocupação, Joana foi colocada em um cambeamento (área para permanência de animais com problemas clínicos), construído em parceria pela Fundação SOS Mata Atlântica e Fundação Toyota do Brasil.

O que se observava em Joana era a eliminação de fezes com presença de plásticos. A ingestão de plásticos por esses animais pode ser muito grave pela possibilidade de causar sufocamento, hemorragia interna, intoxicação, constipação, torção gástrica e até levar a óbito. Apesar da dificuldade no monitoramento da fauna marinha, muitos estudos já fornecem base técnica suficiente para considerarmos a intoxicação plástica um problema em grande escala e que se não controlado, poderia ameaçar a sobrevivência de espécies.

 

Foto: Fundação Toyota do Brasil

Essa é uma realidade extremamente preocupante – microplásticos, equipamentos de pescas e outros poluentes plásticos estão entre as maiores ameaças aos animais marinhos. Segundo levantamentos, existiram até 2014 mais de 236 mil toneladas de partículas plásticas em nossos oceanos.

Existem ainda estimativas que apontam que em 2015 produzíamos 448 milhões de toneladas de plásticos – sendo que por volta de 8 bilhões de quilos deste material são despejados em nosso oceano anualmente. E mais alarmante, essa produção deve dobrar até 2050. Assim, a intoxicação de animais – que tem sido cada vez maior e mais frequente – tende a aumentar ainda mais, agravado pelas poucas Unidades de Conservação Marinha existentes, baixa preocupação com esses ambientes e pouca implementação de políticas públicas voltadas a essa problemática.

A história de Joana, ao mesmo tempo em que nos alegra por sua recuperação, levanta um alerta para a quantidade de animais que são contaminados e que nem chegam ao conhecimento público”, comenta Camila Keiko Takahashi, bióloga que trabalhou no resgate de Joana. “A maneira mais viável e duradoura de reverter este cenário é com a sensibilização e engajamento de mais e mais pessoas para a redução do consumo de plástico e o descarte e destinação correta desses resíduos. Além de implementação efetiva de políticas públicas voltadas a essa problemática”, acrescenta.

Por cerca de 20 dias, a peixe-boi recebeu uma dieta especial que facilitava a eliminação do plástico. Diariamente os veterinários acompanhavam e analisavam suas fezes, até observarem a ausência completa dos elementos. Quando isso ocorreu, Joana pôde ser reintroduzida em seu habitat, junto com outro peixe-boi, o Raimundo.

Foto: Fundação Toyota do Brasil

Graças à atuação conjunta e técnica do ICMBio, Fundação SOS Mata Atlântica e Fundação Toyota do Brasil, e muitos parceiros locais, a história de Joana pôde ser revertida. No entanto, para que outras histórias possam ter o mesmo destino, é necessária uma maior conscientização quanto a redução do uso e destinação de plásticos, a urgência de criação de novas Unidades de Conservação Marinhas e uma maior preocupação com a conservação da biodiversidade brasileira. O compartilhamento de informações e histórias como a de Joana é um caminho de sensibilização para mudança de cenário.

 

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