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Mais da metade das cidades da Mata Atlântica têm menos de 30% de vegetação natural

Novos dados do MapBiomas comprovam a situação crítica do bioma

25 de outubro de 2022

A Mata Atlântica, onde vivem 70% dos brasileiros, está cada vez mais distante de sua configuração original. Segundo os dados mais recentes do MapBiomas, em iniciativa integrada pela Fundação SOS Mata Atlântica, apenas 24,3% do território de aplicação da Lei da Mata Atlântica ainda resiste como formação florestal. Esse tipo de cobertura, que ocupava 27,1% em 1985, caiu para 24,3% em 2021.  

Os estados com menor cobertura nativa em 2021 são Alagoas (17,7%), Goiás (19,5%), Pernambuco (23,4%), Sergipe (25,5%), São Paulo (28,4%) e Espírito Santo (29,3%). Mais da metade (57%) dos municípios possuem menos de 30% da vegetação nativa. Já os estados com maior cobertura nativa de Mata Atlântica no ano passado são Piauí (89,9%), Ceará (76,9%), Bahia (49,7%) e Santa Catarina (48,1%).

Além da redução em área, existe um processo de redução da qualidade dessa cobertura vegetal: entre 1985 e 2021 houve uma perda de 23% de floresta madura. Em 37 anos, 9,8 milhões de hectares de vegetação primária foram suprimidos, enquanto 8,8 milhões de hectares regeneraram-se em vegetação secundária. Elas respondem por 26% de toda a cobertura florestal da Mata Atlântica.  “As florestas secundárias são essenciais para proteção dos rios, diminuição da distância entre fragmentos e absorção de carbono da atmosfera, mas não possuem a mesma biodiversidade de uma floresta primária. A vegetação secundária também está mais suscetível a novos desmatamentos após um curto período de recuperação e um terço dela não chega a completar 8 anos de idade”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

Enquanto a cobertura florestal recua, aumenta a área destinada à agricultura: esse foi o tipo de uso de solo que mais cresceu na Mata Atlântica nos últimos 37 anos. Essa atividade avançou 10,9 milhões de hectares. Se em 1985 ela ocupava 9,2% do bioma, em 2021 esse percentual alcançou 17,6%. Nesse período, a silvicultura (cultivo de árvores para uso comercial, como extração de madeira ou produção de papel e celulose) ganhou 3,7 milhões de hectares, passando de 0,7% (1985) para 3,5% do bioma. Juntos, agricultura e silvicultura já ocupam um quinto da Mata Atlântica. 

Vista aérea de Setubinha, MG, que mostra recorte de silvicultura ao lado de fragmento de floresta Atlântica. Foto: Douglas Magno

O uso da terra prevalente no bioma ainda é a pastagem. Embora essa atividade tenha tido uma perda líquida de 10,5 milhões de hectares nos últimos 37 anos, um em cada quatro hectares desse bioma ainda é de pasto, que perde espaço para agricultura, mas ainda avança sobre áreas de floresta. São 32,2 milhões de hectares, ou 24,6% da Mata Atlântica. A agropecuária, agricultura, pastagens, áreas de mosaico de usos e a silvicultura ocupam 60,1% da Mata Atlântica. 

A região também passou por um forte processo de urbanização nos últimos 37 anos. As áreas urbanizadas passaram de 674 mil hectares em 1985 para 2,03 milhões de hectares em 2021 – um aumento de 1,4 milhão de hectares. Embora 87,5% da expansão tenha se dado sobre áreas já alteradas, em 1985 12,7% cresceu sobre áreas que eram naturais.

Os efeitos da degradação da Mata Atlântica já podem ser percebidos. Um dos serviços ambientais prestados pelas florestas é produção e proteção de água. No período analisado, de 1985 a 2021, a bacia do Paraná teve sua cobertura nativa reduzida de 22,5% em 1985 para 21,6% em 2021. A do Paranapanema e do São Francisco também tiveram uma redução da cobertura nativa, de 21,3% (1985) para 20,3% e de 57% (1985) para 52,9%, respectivamente.  

“Depois de sucessivas crises hídricas afetando dezenas de cidades ao longo da Mata Atlântica, é preocupante ver a capacidade de fornecimento de serviços ambientais deste bioma ser continuamente fragilizada”, adverte Luís Fernando Guedes Pinto, Diretor Executivo da SOS Mata Atlântica. “A preservação do que restou de Mata Atlântica e a restauração em grande escala são essenciais  para preservarmos alguma resiliência dessa região à dupla ameaça da crise climática e da crescente irregularidade do regime de chuvas, decorrente do desmatamento da Amazônia”, ressalta, recordando que estamos da Década da Restauração de Ecossistemas da ONU. Alguns exemplos positivos foram a bacia do Tietê, com muito pouca cobertura nativa, mas que passou de 14,29% (1985) para 15,0% (2021) e do Rio Grande, que aumentou de 17,6% para 19,7%.

Mas não foi só a cobertura florestal que diminuiu nos últimos 37 anos. Entre 1985 e 2021 houve uma perda líquida de 9% da área de formações savânicas, sendo que, em 2021, 14% delas eram de vegetação secundária. O mesmo processo pode ser detectado nas formações campestres: elas recuaram 25% entre 1985 e 2021. As restingas arbóreas perderam 12% de superfície.

O levantamento do MapBiomas a partir do mapeamento de imagens respeitou os contornos determinados pela Lei n° 11.428 de 2006, também conhecida como Lei da Mata Atlântica. Com isso, foram analisados todos os remanescentes florestais, incluindo os encraves do Piauí, Ceará e interior da Bahia. Os 465.711 km2 remanescentes da Mata Atlântica são encontrados em 17 estados (a área contínua estende-se por apenas 15 estados).

Diferentes lentes

Desde 1989, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitoram a situação do bioma e disponibilizam os dados para toda a sociedade no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. Pelo Atlas, restam apenas 12,4% de florestas na Mata Atlântica. Por que a diferença?

O MapBiomas produz mapas de uso e cobertura da terra identificando fragmentos maiores que meio hectare, que são até seis vezes menores que do Atlas, utilizando imagens de satélite Landsat e independente do seu estado de conservação. Por meio de classificação automática, observa ainda a dinâmica de florestas jovens, não registradas pelo Atlas. Isto é, mede a regeneração ou o surgimento de novos fragmentos, assim como o corte deste tipo de vegetação.

Com a particularidade de cada iniciativa, chegamos aos seguintes resultados sobre a cobertura da vegetação nativa da Mata Atlântica. Pelo MapBiomas temos 24% de cobertura florestal original, somando-se todos os fragmentos jovens e maduros acima de meio hectare, independente do seu estado de conservação. Pela lente do Atlas dos Remanescente Florestais, restaram somente 12,4% da cobertura florestal original do bioma, composta por todos os fragmentos mais maduros acima de três hectares com dossel fechado ou sem degradação detectável por imagens de satélite.

Compreendidas as especificidades do Atlas e do MapBiomas, estas devem se complementar no monitoramento da Mata Atlântica, que segue abaixo da linha segura de 30% de área preservada para a conservação de florestas.

 

* Capa: Maceió, Alagoas. Foto: Legacy600 / Wikimedia.

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