Parque Nacional Marinho dos Abrolhos completa 28 anos
Foto: Charles Young / Coalizão SOS Abrolhos
No dia 06 de abril, o primeiro Parque Nacional Marinho (PARNAM) do Brasil, o Parque dos Abrolhos, completou 28 anos de criação. Marco da conservação marinha no país, os 88.250 hectares do PARNAM dos Abrolhos ajudam a proteger a região com a maior biodiversidade marinha no Atlântico Sul, que abriga espécies ameaçadas e exclusivas. Mas o parque ainda enfrenta desafios e ameaças que poderiam ser amenizados com a ampliação da proteção.
Presente – Um dos maiores desafios da região dos Abrolhos é manter a proteção ao verdadeiro tesouro de vida marinha que ela abriga – inclusive em regiões pouco conhecidas pelos cientistas, como os recifes profundos – ao mesmo tempo em que permite a gestão racional de atividades econômicas como a pesca e o turismo, que são fonte de renda para as populações locais.
Estudos conduzidos na região reforçam o papel positivo que as Áreas Marinhas Protegidas possuem para esse fim. Em 2008, um artigo publicado na revista Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems revelou que, quando bem administradas, as AMPs podem promover um importante aumento na abundância e tamanho dos peixes de uma região, incluindo espécies importantes para a pesca. Podem trazer, dessa forma, além da proteção ao ecossistema e às espécies, benefícios econômicos através da atividade de pesca.
No mesmo ano, a revista Fisheries Research também apresentou um estudo sobre o efeito de “spillover”, constatado quando as reservas marinhas promovem, em seu interior, a recuperação de populações de peixes sobre-explorados, gerando, em uma segundo momento, a migração desses peixes para fora das fronteiras da área protegida. Ambos os estudos foram conduzidos na região dos Abrolhos, pelo Programa MMAS em parceria com universidades, a fim de avaliar a efetividade das unidades de conservação marinha.
A região dos Abrolhos abriga diferentes Áreas Marinhas Protegidas (AMPs), dentre áreas de proteção integral, como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, e áreas de uso múltiplo (com zonas fechadas e abertas à pesca tradicional), como as Reservas Extrativistas (Resex) do Corumbau, de Canavieiras e do Cassurubá. Apesar da importância de suas áreas protegidas e de sua biodiversidade, Abrolhos vem enfrentando ameaças diversas como sondagens para exploração de petróleo e ocupação desordenada da costa.
“Os estudos realizados na região apenas confirmam a importância que as áreas marinhas protegidas tem para as pessoas e para a economia local”, afirma Guilherme Dutra Diretor do Programa Marinho da CI-Brasil. “Entretanto, eles também revelam que importantes áreas para a manutenção da biodiversidade e da pesca – como sítios reprodutivos de peixes e recifes profundos, podem estar desprotegidos”, complementa.
“Por essa razão, as organizações e universidades que atuam com a conservação da região estão pleiteando a ampliação das unidades de conservação da região” – afirma Fabio Motta, Coordenador do Programa Costa Atlântica da Fundação SOS Mata Atlântica “Essa proposta fundamenta-se em estudos detalhados sobre os habitats da região e representa a melhor relação custo/benefício para proteção da biodiversidade e manutenção dos principais usos dos ambientes marinhos. Seria um presente de aniversário para o Parque, a biodiversidade e os pescadores”, finaliza.
Relevância da região – O arquipélago de Abrolhos causou curiosidade a Charles Darwin, que o visitou em 1832. Além de resguardar porção significativa do maior banco de corais e da maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, o Parque dos Abrolhos protege algumas das principais áreas-berçário das baleias-jubarte, que migram para o banco para ter seus filhotes. É também a única região do planeta onde é possível encontrar o coral Mussismilia braziliensis, conhecido por coral-cérebro por seu aspecto peculiar.
O coral-cérebro. Foto: Arquivo Conservação Internacional.
Espécies de tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção – como as tartarugas cabeçuda, verde e de pente – também se refugiam no Parque, além de aves como a grazina e os atobás. Em um levantamento da biodiversidade do Banco dos Abrolhos, publicado pela ONG Conservação Internacional, foram registradas aproximadamente 1.300 espécies de oito grupos biológicos na região; 45 delas são consideradas ameaçadas, segundo listas da IUCN e do IBAMA. Muitas dessas espécies ocorrem na área do Parque.
Segundo estimativas baseadas em monitoramento de desembarque pesqueiro, a pesca nas regiões vizinhas ao Parque movimenta mais de R$ 100 milhões por ano, o que representa 10% da receita da atividade no Brasil. Por se tratar de um local seguro para a procriação de inúmeras espécies, o Parque assegura a presença delas também fora dos seus limites, contribuindo para manter ativa a pesca – que sustenta cerca de 20 mil pessoas na região.
O turismo é outra expressão da importância econômica do Parque, que recebe cerca de 5 mil visitantes todo ano. Outras 8 mil pessoas dos municípios do entorno visitam anualmente o Centro de Visitantes em Caravelas. O fluxo turístico gerado pelo Parque garante centenas de empregos em hotéis, pousadas, restaurantes e demais atividades ligadas ao setor.
Dados do PRODETUR mostram que o turismo representa 20% do PIB dos municípios da Costa das Baleias, zona turística correspondente ao litoral do extremo sul da Bahia. Pesquisas da BAHIATURSA apontam que mais de 90% dos turistas que visitam a Costa das Baleias tem como motivação principal os atrativos naturais. As águas claras de temperatura amena, naufrágios e a rica fauna marinha fazem do Parque dos Abrolhos a atração mais importante da região e um dos melhores pontos de mergulho no mundo.