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2020: um ano de marcas eternas

Veja os momentos marcantes em nossa atuação este ano

17 de dezembro de 2020

Mais de 180 mil pessoas não resistiram à Covid-19. Toda vez que falarmos sobre 2020, precisamos lembrar de todas as vidas perdidas durante a pandemia do novo coronavírus. Como vamos falar para essas famílias que elas precisam se recuperar? Se formos falar deste ano, não existe a possibilidade de tratar de recuperação. Todos – alguns mais, outros menos – terão marcas eternas dos impactos da pandemia que assolou o mundo.

Até mesmo por isso, parece que está difícil para o brasileiro se empolgar com as festas de fim de ano. Segundo pesquisa do PoderData, divisão de estudos estatísticos do portal Poder360, 88% dos brasileiros dizem que não devem viajar no Natal nem no Ano Novo. Normalmente, faltando pouco mais que uma semana para o Natal, já seria possível sentir um ar diferente nas ruas. Dessa vez, parece que as pessoas estão esperando é mesmo a última volta dos ponteiros de 2020.

Para aqueles que podem ter o privilégio de analisar 2020 – ainda que também tenham sofrido com os impactos da pandemia –, mas que estão naquela pequena parcela da sociedade que puderam trabalhar de casa, têm seus empregos garantidos em 2021 e ainda não tiveram nenhum parente próximo contaminado, seria possível pensaram num ano novo diferente?

Para alguns – neste texto sempre faremos questão de frizar como algumas generalizações são  incorretas para analisar 2020 –, a sensação do que fazer diferente nos próximos anos têm sido latente. Foi um ano de reflexões. Talvez, algo como uma reconexão com as origens e, principalmente, na valorização dos detalhes e das pequenas felicidades que a vida proporciona,  como estar perto da família, cuidar da saúde e, por que não, das plantas. Coincidência ou não por conta das recomendações das autoridades em se evitar aglomerações, fato é que 82% das pessoas devem passar as festas de fim de ano com família, amigos, entre outros que já fazem parte do convívio, outro dado trazido pelo PoderData.

Recentemente, o Google apresentou as tendências do ano com os assuntos mais buscados na ferramenta e, entre eles, muitos trazem essa relação com o meio ambiente. Termos, como “horta em casa“, “como impedir a mudança climática“, “pôr do sol perto de mim“ e “mudar o mundo“, estão entre os assuntos mais procurados – sem esquecer, é claro, da busca por receitas de pão caseiro, a mais procurada pelos brasileiros. Ou seja, como o meio ambiente tem feito falta para muita gente.

Atuação ambiental durante a pandemia

Em um pequeno balanço da área ambiental, nossos diretores Mario Mantovani e Luis Fernando Guedes Pinto publicaram um artigo na Folha de S. Paulo nesta terça (15/12) que resume bem a política ambiental do atual governo federal. Não se trata de algo pontual, mas sim sistêmico e estratégico: ferro, fogo e caneta. De qualquer forma, não há surpresa nisso. Como havíamos dito no fim do ano passado, o governo já mostrou a que veio. Estamos vivendo um novo ciclo de devastação no Brasil, repetindo antigas estratégias que enxergam o meio ambiente como estorvo.

Foi um ano de inúmeros incêndios florestais, de retrocessos na legislação ambiental, inclusive na Mata Atlântica. Mas com certeza seguiremos na luta para frear a política anti-ambiente do governo federal, como já fizemos este ano em ação civil que protolocamos com o Ministério Público Federal (MPF)e veiculamos a campanha Continuam Tirando o Verde da Nossa Terra. Também tivemos um aumento do desmatamento na Mata Atlântica em quase 30%, após dois períodos de queda. 71% deste desmatamento entre 2018 e 2019 ocorreu em apenas 100 cidades.

Veja também quais foram as ações da da Frente Parlamentar Ambientalista de 2020

Então, para mudar isso, precisamos olhar para os bons exemplos, além de seguir na luta contra qualquer tipo de retrocesso, contando com o apoio de pessoas e de empresas, além das instituições democráticas em quem sempre acreditamos, como o Congresso Nacional. Já havíamos alertado no começo de 2020 sobre a importância desta casa valorizar a agenda ambiental, o que realmente ocorreu. E é claro, aguardando a tão sonhada vacina contra o novo coronavirus chegar no Brasil.

Este ano, conseguimos ver gente que colocou a mão na massa. Como disse a professora Yara Novelli, em entrevista ao nosso site, não devemos esperar nada dos políticos. “O brasileiro tem amor e respeito à pátria e cada um de nós sabe, lá dentro, o sentido do porquê estamos aqui, que há um compromisso“, disse ela. E as pesquisas do Google também provam isso. O termo “como manifestar“ foi mais pesquisado do que “como ser presidente“ – até porque ser presidente talvez não esteja muito na moda mesmo. E “como  ser aliado“ foi mais pesquisado do que “como ser um influenciador“. Poderíamos citar outros ainda, entre  eles “como ajudar“ e “como doar“.

Saiba como doar para que a Fundação SOS Mata Atlântica continue seu trabalho

Entre aqueles que colocaram a mão na massa e fizeram a diferença estão os alunos do curso online que realizamos em parceria com o Santuário Nacional de Aparecida. Juntos eles salvaram árvores condenadas por uma obra e encontraram um novo local para elas serem plantadas. O ano foi marcado ainda pela iniciativa de proprietários rurais que criaram reservas ambientais mesmo durante a pandemia. A categoria de área protegida chamada de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) completou 30 anos em 2020. Para celebrar, destacamos em nosso site a aprovação ou início do procesos de criação de 13 reservas no Brasil.

Outra causa que sofreu diversos impactos da pandemia do novo coronavírus foi a da Restauração Florestal, principalmente com o reflexo das restrições impostas pelas autoridades durante o período de quarentena mais restritiva em todo o Brasil. Além de realizar protocolos de retorno ao campo, assim como o fez também a equipe de água na retomada das atividades após a flexibilização da quarentena, a equipe de restauração florestal teve bom desempenho em sua atuação. Tanto que, ao longo do ano, fizemos questão de parabenizar a ação incansável dos viveiristas da Fundação, os pais das árvores, como chamamos em matéria especial do nosso site.

Este ano, eles foram responsáveis pela produção de mais de 400 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica no Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica – HEINEKEN Brasil.  Ao todo, a ONG plantou mais de 700 mil árvores nativas da Mata Atlântica – por uma questão de cuidado com a vida das mudas, alguns projetos distantes de nossa base de restauração florestal recebem mudas de viveiros parceiros.

Então, temos um recado importante para 2021: continuar agindo, cada um como puder. Até porque “esperança“ bateu recorde de buscas também no Brasil. E o que trouxe esperança pra gente em 2020 foram algumas ações que nos dão a certeza que estamos no caminho certo.

Ciência e meio ambiente

Assim como no combate à covid-19, a ciência deu seu recado sobre as soluções no combate às mudanças climáticas e a degradação ambiental em todo o planeta.

Uma pesquisa realizada em nosso Centro de Experimentos Florestais constatou que mamíferos silvestres estão ocupando a área depois que ela passou pelo processo de restauração florestal. Ao todo, foram identificadas 20 espécies nativas de médio e grande porte, como gato-mourisco (Puma yagouaroundi) e lontra (Lontra longicaudis). Além disso, alguns projetos apoiados por nosso edital de valorização ao uso público das áreas protegidas, divulgaram resultados incríveis. Entre eles, a iniciativa que avistou, depois de dois anos sem registros, a ave símbolo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o gavião-real (Harpiaharpyja). E o projeto que abriu uma nova área para prática de escalada em rocha dentro da Floresta Nacional de Ipanema.

Nossa equipe de Áreas Protegidas atuou diretamente com chefes de 12 Unidades de Conservação apoiadas pela organização para auxiliar a gestão das áreas durante o cenário de pandemia.

Saiba mais sobre nossa atuação com as áreas protegidas

Rio Tietê
Foto do Rio Tietê na capital paulista, onde é poluído.

Na área da Água, os novos dados da poluição do rio Tietê, divulgados em setembro pela equipe do projeto Observando os Rios, constataram que a pandemia de Covid-19 e clima impactam na qualidade da água do rio. O trabalho feito pelos voluntários do projeto constatou uma redução na poluição do maior rio paulista, principalmente com a diminuição do lixo nas ruas e a fuligem de veículos. Por outro lado, acarretaram no aumento da pressão por uso da água pela população. Durante o ano, por conta da paralisação dos monitoramentos em meio à pandemia, a equipe da causa Água Limpa realizou encontros virtuais com todos os voluntários do projeto, mantendo assim, a conexão e engajamento do grupo. Além disso, a Fundação SOS Mata Atlântica também realizou eventos virtuais para as demais causas na série Mata Atlântica em Debate. Foram 11 debates que tiveram mais de 80 mil visualizações.

Educação e informação ambiental

É inegável que, apesar de muito informados, também estamos vivendo uma época de desinformação e disseminação de notícias falsas – mais conhecidas como fake news. Para lutar contra isso, o conhecimento e a educação ambiental sempre foram marcas fortes da Fundação SOS Mata Atlântica.

Em 2020, celebramos os 10 anos do projeto Aprendendo com a Mata Atlântica e apresentamos a história de alguns alunos que, depois de visitar o projeto, foram impactados tão positivamente que isso até influenciou sobre qual carreira profissional seguir. Um vídeo comemorativo do projeto foi lançado para mostrar como a iniciativa refletiu em grupos dos mais diversos e ajudou professores a passar conhecimento para seus alunos por meio da experiência na natureza.

Uma novidade que nos alegrou muito também é que o projeto Observando os Rios conta agora com uma plataforma de inteligência artificial, desenvolvida em parceria com a Microsoft, que auxilia a prever cenários para os rios monitorados nos 17 estados do bioma nos próximos anos.

Além disso, lançamos ainda o estudo  “Resumo Fundiário, Uso do Solo e de Remanescentes Florestais de 117 Municípios da Mata Atlântica“, em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). A pesquisa constatou que as grandes propriedades apresentam maiores áreas de déficit ambiental em municípios da Mata Atlântica. Segundo o estudo, nos municípios analisados, as grandes propriedades – que correspondem a 3% do total, apresentam as maiores áreas de déficit de Área de Preservação Permanente (APP), com 46,6%, e de Reserva Legal, com 69,6%. Em um ano de Eleição municipal, o estudo teve o papel de contribuir para a tomada de decisão de políticas públicas ambientais. Função esta que também foi desempenhada por nosso manifesto a aspirantes aos cargos de prefeito e vereador nas eleições deste ano.

Clima e Mata Atlântica

O Acordo de Paris para o clima completou 5 anos em 2020 e os países signatários informaram suas metas de redução de emissões de gases estufa para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC. O Brasil, porém, perdeu totalmente sua liderança na área. A proposta da sociedade civil brasileira, representada pelo Observatório do Clima, era de uma redução de 81% em relação aos níveis de 2005 até 2030. O país divulgou a meta de reduzir só 43%. E se comprometeu a zerar suas emissões líquidas somente em 2060 – e condicionou antecipar a meta apenas se receber recursos da ordem de US$ 10 bilhões ao ano, a partir de 2021. Não à toa, o Brasil venceu duas categorias no “prêmio“ Fóssil do Ano por ações contra o meio ambiente.

Outro alerta para o país está na atualização que a Organização das Nações Unidas (ONU) acaba de fazer com o novo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que passará a considerar questões de impacto ambiental. O IDH lançado há poucos dias ainda não considerou os aspectos ambientais deste ano – apenas para o ano de 2019. Neste resultado, o Brasil caiu cinco posições por conta da estagnação da educação no país, ocupando agora o 84º lugar (entre 189 países) com um índice de 0,765 (sendo 1 o maior índice) . Se os aspectos ambientais fossem considerados, o país diminuiria seu IDH, apesar de subir no ranking por conta da queda de outros países.

Neste ano, o novo marco legal do saneamento foi aprovado e que pode promover avanços significativos ao País. Com a lei, o Congresso Nacional elevou o saneamento na agenda de desenvolvimento para o país. Porém, os legisladores perderam a oportunidade de tratar o acesso ao saneamento básico como direito humano.

Agora, uma certeza e confirmação que tivemos em 2020 é de que a solução para o combate às mudanças climáticas está na natureza e parte dela na Mata Atlântica. Um estudo internacional liderado pelo pesquisador brasileiro Bernardo Strassburg e publicado na renomada revista Nature chamou a atenção novamente para a restauração de ecossistemas. A pesquisa apontou que a restauração de 30% das áreas prioritárias do mundo evitaria a extinção de 71% das espécies ameaçadas, sequestraria 49% do aumento total de carbono na atmosfera desde a revolução industrial e reduziria 41% dos custos. O cenário que otimiza aspectos ambientais e econômicos poderia alcançar uma relação custo-benefício de até treze vezes, principalmente se incluir vários biomas da Terra. O estudo ainda apontou a Mata Atlântica entre os biomas de maior prioridade para a restauração no mundo.

Agora é hora de organizar a bagunça e fechar as gavetas do ano, como os japoneses fazem em seu milenar ritual Oosouji. Ele não se trata apenas de um hábito de higiene de limpeza da casa e até ruas, mas também de uma purificação para o ano que se aproxima.

Apesar de ter faltado abraço e calor humano, 2020 foi um período de muita união entre as ONGs, ano de muitas parcerias e trabalho em rede, a quem aproveitamos para agradecer e desejar um ótimo novo ano. Mas quem realmente merece toda nossa consideração são vocês que acompanham e torcem pelo nosso trabalho! Encerramos 2020 com a sensação de dever cumprido e de superação. Que venha 2021. Estamos prontos!

Crédito: Fundação SOS Mata Atlântica

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